sexta-feira, 30 de março de 2012

OBSTÁCULOS À MEDITAÇÃO

Miguel Homem - 27 de Fevereiro de 2012

Os quatro grandes obstáculos são:
1. A tendência para adormecer (laya);
2. A agitação e vaguear da mente
(vikshepa);
3. Latências inconscientes da mente
(kashayam);
4. Tendência para usufruir a quietude
(rasasvad).
Deve acordar-se a mente que caiu no
sono; deve trazer-se a mente dispersa
de novo para a tranquilidade; deve conhecer-se a mente colorida
com desejo.


[LEIA O ARTIGO ::


Miguel Homem - 27 de Fevereiro de 2012 - 4 Comentários

Gaudapada foi mestre do célebre Shankara. Ele escreveu um tratado em que expôs o ensinamento da Mandukya Upanisad. Ali, em apenas dois versos, identificou os obstáculos à meditação e como superá-los:

laye sambodhayecchitam vikshiptam shamayetpunah |

sakashayam vijaniyatsamapraptam na chalayet ||

na ' svadayetsukham tatra nihsangah prajñaya bhavet |

nishchalam nishcharacchitattamekikuryatprayatnatah ||

Deve acordar-se a mente que caiu no sono; deve trazer-se a mente dispersa de novo para a tranquilidade; deve conhecer-se a mente colorida com desejo. Não se deve perturbar a mente estabelecida em equilíbrio.

Não se deve usufruir a felicidade nesse estado, mas deve-se manter desapegado pelo uso do discernimento. Quando a mente estabelecida na sua identidade (uniformidade), quiser abandoná-la, deve concentrar-se com diligência.
Mandukya Upanishad Karika de Shri Gaudapada, III, 44-45.



Os quatro grandes obstáculos são:

1. A tendência para adormecer (laya);

2. A agitação e vaguear da mente (vikshepa);

3. Latências inconscientes da mente (kashayam);

4. Tendência para usufruir a quietude (rasasvad).

A clareza da exposição de Gaudapada foi tal que ao escrever o comentário, bhashya, à Mandukya Upanishad, Shankara incluiu a exposição, karika, do seu Mestre. Deixa-se o comentário de Shankaracharya sobre os versos em questão para que possamos tomar contacto com a viva voz da tradição:

"Desta maneira com a ajuda do duplo processo de desapego e prática do conhecimento, sambodhayet, deve acordar-se; a mente fundida, laye, no sono profundo; deve empenhar-se em perceber a transcendência de si mesmo. A palavra chitta tem o mesmo significado de manas, mente. Shamayet punah, de novo deve-se fazê-la tranquila; a mente que é vijshiptam, dispersa, entre o desejo e o prazer. Quando a mente de um homem, que pratica uma vez e outra, é acordada do sono profundo e é retraída dos objectos, mas não se estabelece em equilíbrio e continua num estado intermédio, então vijaniyat, deve saber-se; essa mente como sendo sakashayam, tingida de desejo num estado latente. Desse estado, também, deve ser diligentemente levada ao equilíbrio. Mas quando a mente se torna samapraptam, equilibrada, isto quer dizer, quando se começa a dirigir para esse objectivo; na vichalayet, não deve ser perturbada nesse percurso; ou noutras palavras não deve ser voltada para objectos.

Sukham, a felicidade, que o yogi tem enquanto tenta concentrar a sua mente; na asvadayet, ele não deve usufruir. Isto significa que, ele não se deve apegar tatra, ali, àquele estado. Como deve ele comportar-se ali? Ele deve tornar-se nihsangah, não apegado. Prajñaya, através de um intelecto discriminativo. Ele deve pensar 'qualquer felicidade percebida é uma criação da ignorância e é falsa'. Ele deve também retirar a mente desse tipo de atracção pelo deleite - este é o significado. Quando tendo sido retirada da atracção pela felicidade, e tendo atingido o estado de equilíbrio, a mente torna-se nishcharat, desígnio de ir para fora; então retira-se a dos objectos com a ajuda do processo acima mencionado, ekikuryat, deve ser diligentemente concentrada, no próprio Eu; prayatnatah, com diligência. A ideia é que deve ser feita atingir a sua verdadeira natureza de consciência apenas."

[Traduções a partir da tradução para o Inglês do Swami Gambhirananda.]



1. O sono

O sono é um dos maiores obstáculos à meditação. De facto, a meditação é o momento em que muitos dormem e alguns mais ousados ressonam. Isto acontece, porque estamos relaxados e sempre que dormimos também estamos relaxados. Não é que sempre que estamos relaxados dormimos, mas de facto para adormecer, relaxamos primeiro.

O sono é, regra geral causado por cansaço físico ou mental. Deve, por isso, preparar-se a meditação com descanso suficiente. O que se faz antes da meditação assume um papel determinante no evitar do sono.

Laye sambodhayet cittam. Laya é o sono. Quando o sono chega, acorda a mente. Sucede que quando o sono se instalou já não estamos presentes para nos acordarmos J. A instrução serve então para o momento anterior ao sono. Antes do sono chegar os olhos começam a pesar, instala-se um torpor e uma letargia. Se estivermos atentos a esses sinais, sabemos que o sono começa a aparecer e pode-se despertar a mente.

Um dos métodos para evitar o sono é a auto-sugestão. Não é incomum acontecer que quando temos de nos levantar a uma hora de manhã cedo fora do comum, acordarmos ainda antes do despertador. Isso acontece porque antes de adormecer temos o pensamento determinado que não podermos adormecer depois de o despertador tocar e temos de estar alerta. Essa mesma auto-sugestão pode ser usada. Isto é muito eficaz.

A respiração, pranayama, é outra ferramenta útil para ser usada para preparar a mente para a meditação. Haverá pois que saber escolher o pranayama em função do momento. Sobre o pranayama vejam-se os artigos publicados nos Cadernos de Yoga e disponíveis no Dharmanindu.

O importante é evitar criar o hábito de adormecer na meditação, sob pena desse padrão se instalar. Vale tudo para evitar o sono: respirar fundo, abrir os olhos, interromper e fazer pranayama, shirshasana (invertida sobre a cabeça) ou até um surya namaskara (saudação ao sol).

O sono é, sem dúvida, o obstáculo mais comum. Seguem, em resumo, algumas sugestões para o evitar (seguindo a indicação do Swami Paramarthananda):

· Medite depois de tomar banho ou pelo menos depois de lavar o rosto e as mãos.

· Medite quando o estômago não estiver demasiado cheio ou vazio.

· Escolha um momento em que a mente esteja alerta.

· Auto sugestão: "Permaneço acordado e alerta".

· Não medite depois de uma actividade cansativa e esgotante.

· Não medite quando existe um défice de sono.

· Inicialmente faça sessões curtas de meditação de 15 a 20 minutos.



2. A agitação e vaguear da mente (vikshepa)

Vikshiptam shamayet punah,quando a mente se afasta, trá-la de volta.

A mente tem uma tendência extrovertida e tende a dispersar seja pela percepção de objectos pelos sentidos, seja pelas próprias impressões internas.

a) A dispersão externa, pelo que os sentidos reportam, é evitada pelo seguir dos primeiros passos da meditação dentro da tradição.

b) A dispersão interna desaparece com a capacidade de concentração desenvolvida pelo japa e o que se deixou dito a esse propósito. Numa e noutra forma de dispersão, o exercício do desapego em relação ao que é percebido e do conhecimento assimilado devem-se fazer presentes. Meditar impõe um estar alerta, desperto e não um deixar-se levar.

O estudo da meditação e do seu valor ajudam a evitar a distracção, uma vez que a mente tende a apreciar aquilo que valoriza. Com a prática torna-se claro que alguns hábitos e gostos que temos são a raiz de perturbação e distracções durante a meditação. Quando esses hábitos são identificados devem ser reduzidos ou evitados.



3. Latências inconscientes da mente (kashayam)

Kashaya são as impressões nascidas do inconsciente. Ao longo da nossa vida e sobretudo nos primeiros anos de vida existem uma série de situações com as quais somos confrontados e para as quais não temos a capacidade ou discernimento para lidar. Essas memórias, pensamentos e experiências não digeridos são acumulados no inconsciente. Durante a meditação quando a mente encontra uma relativa quietude, tudo isso, que não foi expresso nem assimilado, emerge e manifesta-se. Esta emersão de pensamentos pode perturbar a meditação.

Sa kashayam vijaniyat, quando a mente permanece quieta depois de algum tempo de japa ou outra meditação, todo o tipo de pensamentos surgem na mente. Entende-os como sendo do inconsciente e acolhe-os.

É necessário permitir que esses pensamentos passem sem resistência e sem perturbação. Acolhemos esses pensamentos reconhecendo que eles não tinham sido processados até então e portanto agora são expressados. Deixamo-los emergirem fazendo com que dessa forma não se tornem parte da própria personalidade. Para tanto há que manter um alerta, mantendo-se como simples testemunha.

No dia-à-dia aconselha-se a não manter emoções e sentimentos suprimidos. Esta supressão cria esta pressão no inconsciente que vem a aparecer como um obstáculo. Neste sentido recomenda-se expressá-los, seja com alguém, seja escrevendo para si mesmo.



4. Usufruir a quietude e felicidade (rasasvad)

Este é um obstáculo muito subtil. Quando a mente se aquieta e se volta para dentro surge a sensação de paz, serenidade e felicidade. Quando isso acontece naturalmente a experiência é materializada num pensamento do tipo "que bom que é este estado" "que boa que está a meditação hoje" "que felicidade que traz esta meditação". Assim, que este pensamento surge na mente a objectificação da quietude e felicidade aconteceu. Isto dá origem a uma nova leva de pensamentos e impede o reconhecimento dessa felicidade como sendo atma svarupah.

Nasvadayet sukham tatra, não usufruas desse estado. Reconhece: "Isto sou eu" nissangah prajnaya bhavet, com o reconhecimento "esta felicidade sou apenas eu" permanece livre.

"Acorda a mente quando o sono chega. Quando a mente acordada vagueia, de novo, trá-la de volta. Quando a mente está sob o domínio de alguns desejos não manifestos, conhece-os como sendo do inconsciente. Não se deve perturbar a mente que ganhou tranquilidade depois dos obstáculos terem sido ultrapassados. Não usufruas o deleite, ananda, nesse estado tranquilo. Se desapegado em relação a esse deleito pelo entendimento correcto."

Tradução livre a partir do ensinamento do Swami Dayananda.

Publicado originalmente no website www.dharmabindu.com.

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terça-feira, 20 de março de 2012

Investigação no TO mostra corrupção no Judiciário




Por FELIPE RECONDO E RICARDO BRITO, estadao.com.br


Quando a corregedora Nacional de Justiça, Eliana Calmon, revoltou a magistratura ao afirmar, no ano passado, que havia 'bandidos de toga', ela não revelou nomes, mas tinha uma lista com casos emblemáticos, como o encontrado em Tocantins. A corregedora já conhecia parte das quase 5 mil páginas da ação penal 490, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), uma espécie de radiografia de tudo o que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) busca combater no Judiciário.
Ao longo de quatro anos, uma ampla e detalhada investigação mostra que 4 dos 12 desembargadores montaram esquemas no Tribunal de Justiça do Tocantins (TJ-TO) para vender sentenças, satisfazer interesses de políticos locais, cobrar pedágio para liberar o pagamento de precatórios, confiscar parte dos salários dos assessores para financiar viagens ao exterior e cobrar dos cofres públicos indenização vultosa por danos morais por terem sido investigados.
Os indícios e provas colhidos levaram o Ministério Público a denunciar quatro desembargadores, dois procuradores do Tocantins, sete advogados, três servidores do tribunal e outras duas pessoas envolvidas no esquema.
O jornal O Estado de S. Paulo teve acesso à denúncia do MP, e aos 15 volumes e 47 apensos da ação penal no STJ contra a presidente do Tribunal de Justiça de Tocantins, Willamara Leila de Almeida, e os desembargadores Carlos Luiz de Souza, Amado Cilton Rosa e José Liberato Póvoa.
Perícias em computadores de advogados e juízes, depoimentos de testemunhas, ligações telefônicas gravadas com autorização da Justiça, vídeos e fotos captados pela Polícia Federal mostram em detalhes como o esquema funcionava. Nas 152 páginas, o Ministério Público denunciou os envolvidos por formação de quadrilha, corrupção ativa, corrupção passiva, tráfico de influência, peculato e concussão.
Sentença copiada
No primeiro dos casos em que o MP aponta indícios de venda de sentenças, as investigações mostram que o desembargador Carlos Souza não teve sequer o trabalho de escrever o voto que iria proferir e que atendia aos interesses de advogados que defendiam o Instituto de Ensino Superior de Porto Nacional (Iespen) - Germiro Moretti e Francisco Deliane e Silva (juiz aposentado).
A Polícia Federal apreendeu na casa de um dos advogados um computador em que o voto estava sendo escrito. A última versão do texto datava do dia 20 de junho de 2007, às 9h36. Horas depois, o caso estaria na pauta de julgamento do TJ-TO. Para saber se aquele texto correspondia ao voto proferido pelo desembargador Carlos Souza, a PF fez uma comparação entre os dois.
Das 146 linhas do documento, 131 foram usadas no voto do desembargador. As poucas alterações foram para corrigir erros de digitação ou para substituir termos jurídicos em latim por expressões em português. Os grifos e os erros de pontuação do texto encontrado no computador do advogado foram mantidos no voto do desembargador. Conversas telefônicas entre Morreti e Deliane reforçaram as suspeitas do Ministério Público. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Denunciados negam existência de esquema no TO
Investigação no TO mostra corrupção no Judiciário
Quem não tinha dinheiro pagava com cheque
Filho de jornalista pego com CNH supostamente falsa
Terça-feira terá pancadas de chuva no centro-norte
Escola popular do Rio dá início ao ano letivo