A proposta do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, de estimular o crédito para tentar reanimar a economia divide especialistas, mas pode acabar esbarrando em um problema bastante prático: a falta de demanda.
– Vamos levar o cavalo à água para ver se ele quer bebê-la – disse Barbosa, nesta quarta-feira, em Davos, na Suíça, ao comentar a estratégia para o crédito, mencionando ditado que afirma que você pode levar o cavalo à água, mas não pode forçá-lo a beber.
Nos bancos, o ditado é usado para explicar que não basta oferecer crédito se os clientes não querem tomá-lo. O pessimismo com o cenário econômico e o índice de endividamento podem impedir que as empresas recorram aos bancos para buscar capital de giro. O direcionamento de recursos a alguns setores também é criticado.
– Não basta sair aumentando a oferta. Mas o que me chama mais a atenção é a repetição de um erro cometido diversas vezes nos últimos 10 anos: o estímulo vai para meia dúzia de setores escolhidos – critica o economista Luciano D'Agostini, PhD em desenvolvimento econômico.
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Felipe Leroy, professor de Economia do Ibmec ressalta diferenças entre a proposta de Barbosa e as políticas de incentivo adotadas no período em que Guido Mantega esteve no comando da pasta.
– Desta vez, o Tesouro não vai arcar com custos de equalização de juros, não vai haver comprometimento fiscal. Nesse caso, então, a proposta é válida. É uma tentativa para amenizar a queda na atividade econômica e marca um discurso diferente do antecessor Joaquim Levy, mais focado na necessidade de ajuste nas contas – diz.
Em Davos para participar do Fórum Econômico Mundial, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, avaliou o plano de Barbosa como "correto". Ressaltou, porém, que a demanda por crédito novo na economia é "quase inexistente".
Para o economista Pedro Raffy Vartanian, professor da Universidade Mackenzie, a proposta vai ser asfixiada por falta de demanda.
– Com a taxa básica em dois dígitos não se pode falar em proposta atraente. Não vai convencer empresário a investir – avalia Vartanian.
Para o especialista, realizar o ajuste fiscal que ficou no papel em 2015 seria mais eficaz no momento para incentivar a iniciativa privada:
– O investidor olha o futuro. Ninguém vai tirar um centavo do bolso se achar que a economia vai continuar nesse mesmo ritmo nos próximos anos. Nos últimos meses, muito foi discutido, mas pouco foi colocado em prática para controlar os gastos.
A principal aposta do governo continua sendo fechar as contas do ano aumentando a arrecadação com a CPMF que quer ver aprovada até maio.
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